22 março 2007
AS PARTEIRAS DE ONTEM E DE HOJE
Tia Ana era baixinha e gorda. Andava gingando seu corpo de um jeito todo seu. Ia ao seu lado pela rua principal de Catiguá. Os adultos que encontrávamos pelo caminho a cumprimentavam com um “Boa tarde madrinha”. As crianças, acompanhadas ou não dos pais diziam “Oi madrinha”. Fiquei intrigado e perguntei “Tia a senhora é madrinha de toda essa gente ?”. Ela gargalhou gostoso, contraindo os olhos a ponto de quase fechá-los. “Não”, respondeu-me após tomar o fôlego. “É que todas essas pessoas fui eu que fiz o parto !!”, emendou. “Mas tia, de toda essa gente ?”, ponderei. “Iiihhh, meu filho, tem muito mais. Eu perdi a conta de quantos partos eu fiz nessa cidade. Lembra daquele homem que me cumprimentou primeiro ? Pois é, eu trabalhei no parto dele, depois das filhas dele e dos neto dele. Agora não faço mais parto, estou velha”, arrematou triste. Lembrei-me dessa história porque assisti uma reportagem das parteiras das margens dos rios da Amazônia. Esse brasilzão ainda tem locais incrivelmente atrasados.
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2 comentários:
E que alguma força do além mundo proteja as Tias Anas deste país...Sem elas, parir pode ser algo extremamente perigoso.Minha bisa morreu de parto nos cafundós de uma Bahia onde ninguém jamais havia ouvido falar de hospital.
Não podia deixar de dizer como fiquei feliz ao ter notícias de Doramundo e de ti. Imensidão de felicidade encapsulada dentro dos pequenos atos.
Magenta no meu céu de fim de tarde.
beijo
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