O ritual se repetia quase todos os dias. Ele chegava em casa, ia direto para o quarto e fechava a porta. Da pequena fresta da janela dava para ver que ele abria o guarda roupa e retirava de lá uma caixinha de madeira. Era uma caixa comum, retangular. Na frente da caixa ficava dependurado um pequeno cadeado prendendo a tampa. Colocava-a sobre a cama, sentava na borda e cerimoniosamente pegava a chave e abria-a. Às vezes tirava de lá algum papel ou depositava ali alguns trocados. Tinha ciúme inexplicável daquele objeto de madeira. Caiu doente. Abandonou a caixa dentro do guarda roupa. Agonizou por muito tempo até falecer. Após o sepultamento, os parentes se reuniram, precisavam ver o conteúdo misterioso da caixa. Ninguém achou a chave. Alguém sugeriu desmontar pela dobradiça. Assim foi feito. Havia tensão no ar. Finalmente a tampa abriu-se. De dentro da pequena caixa foram sendo tirados sob os olhares curiosos muitos papéis velhos, sem nenhum sentido como recibos de salários, receitas médicas, bulas. Nenhuma carta de amante, nenhuma cédula de dinheiro, nenhum título de banco, nenhum seguro de vida. Nada que realmente valesse a pena. Aquela caixa era apenas um símbolo que ele tinha para imaginar que possuía alguma coisa.
11 novembro 2009
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