Já passavam das 23:30 horas. Última volta do ônibus coletivo no bairro. Num lugar ermo, um rapaz dá sinal ao motorista para parar. Está acompanhado de uma mulher com uma criança no colo. Ele sobe primeiro no ônibus. A mulher o segue. Ambos aparentando mais ou menos 25 anos de idade. Cabelos em desalinho, mal vestidos, rostos de gente sofrida. A criança no colo resmunga, dando a impressão de ser fome. Ela senta-se num banco do fundo do ônibus. Ele ao lado do cobrador. Na medida que o ônibus vai a caminho do bairro, as poucas pessoas a bordo vão descendo, até ficar apenas o cobrador, o motorista e o casal. O rapaz parecia nervoso. Olhava constantemente para a mulher. A criança no colo começa a chorar. Quando o ônibus passou num lugar escuro, o rapaz levantou-se, sacou uma faca velha da cintura e anunciou o assalto. O cobrador, apavorado, correu para junto do motorista, que ordenou que ele entregasse o dinheiro ao ladrão. O ladrão apanhou o dinheiro e alguns passes, desceu rápido do ônibus, saltou um muro e se perdeu no mato. Como de praxe, o motorista acionou a polícia via rádio. Como a polícia estava pelas imediações, em poucos minutos chegava no local fazendo barulho. Apontada a rota de fuga, lá foram eles. Saltaram o muro a tempo de encontrar um rapaz suspeito. Ele negava a autoria do roubo. Bateram revista e não acharam nada em posse do rapaz. Procuraram nas proximidades do rapaz e encontraram um saco plástico com pouco mais de cinquenta reais, alguns passes e uma faca. Pronto, instalou-se ali no meio do mato um tribunal, onde os policiais seriam as testemunhas, advogados e juízes. A sentença veio rápida. O meliante (como eles gostam de chamar) deveria ser educado a não mais assaltar ônibus. O castigo seria uma surra no mesmo local do flagrante. O primeiro chute foi no estômago, o segundo no rosto, o terceiro nas costas, e outro, mais outros. Fizeram-no saltar o muro de volta. Passou algemado ao lado do ônibus. Tentou encarar a mulher e o menino mais uma vez. Seus olhos inchados de tanto apanhar talvez tenha impedido a visão. Foi jogado dentro do camburão. A criança no colo da mãe chora alto a espera da comida que não virá tão cedo.
25 maio 2006
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