23 janeiro 2011
O REI
Era um homem baixo e gordo. Sua roupas sempre surradas, deixando à mostra alguns rasgos ou remendos. Seu rosto rechonchudo era de uma cor rósea, seu lábio inferior era igualmente gordo. Sua boca nunca fechava, estava sempre entreaberta. Odiava tomar banho. Nos passeios que fazia pela cercanias do Rio de Janeiro com sua carruagem sempre levava consigo uma pequena comitiva composta de um jovem cavalariço que ia à frente montado em uma mula de onde pendia dois alforges, num deles tinha pedaços de frango frito, para o lanche, no outro um penico com uma armação que imitava um vaso sanitário. Seguindo atrás da carruagem seguia o camarista e seu criado particular. Havendo necessidade fisológica, avisava o vassalo que prontamente descia do seu animal e armava o apetrecho. Aí entrava o serviço do camarista que descia do seu animal e arriava a roupa do senhor gordo, que, com a maior naturalidade, sentava no penico tranquilamente. Satisfeito, entrava em serviço seu criado particular, que o limpava. Esse ritual era executado mesmo se a comitiva fosse maior e estivesse ao lado de sua filha predileta, Maria Teresa. O nome completo desse senhor era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luis Antonio Domingos Rafael de Bragança, ou, como ele é mais conhecido, simplesmente D. João VI. ("1808" - Laurentino Gomes, págs. 139 e 247)
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