19 maio 2009

SOLIDARIEDADE BANDIDA


Miro é um ex-metalúrgico. Foi demitido após longos anos de trabalho como serralheiro. Casado, com 32 anos, 2 filhos, sendo um recém nascido. Fazia dois anos que não conseguia novo emprego. Ficava fazendo pequenos serviços em vários lugares, nada fixo. Resolveu mudar-se para casa do sogro, economizando o aluguel. Decidiu também, com a autorização do sogro, montar um pequeno carrinho de lanches no espaço de quintal que havia em frente à casa. Construiu com sua arte a grade fronteiriça e o teto. Comprou um pequeno refrigerador horizontal, montou um balcão e passou a vender lanches. Antes, porém, teve que pagar à Prefeitura os encargos para a nova empreitada e seguir algumas regras básicas para quem vende alimentos, como vestir o uniforme (jaleco) e gorro. Miro até que está se saindo bem. Consegue comprar "o leite das crianças" como costuma dizer. Dias desses, num sábado, quando já se preparava para fechar o seu estabelecimento, perto das 2:00 horas da manhã, recebeu inesperadamente a visita de um rapaz jovem, que sem dizer nenhuma palavra sacou um revólver, encostou-o na cabeça do infeliz e anunciou o assalto. Miro ficou pálido, sentiu um calor anormal subir pelo rosto. Olhou para o revólver e pensou nos filhos, na esposa. Desespero total. Muito lentamente enfiou a mão no bolso do jaleco e entregou ao rapaz a féria do dia. O assaltante sem baixar a arma, recebeu o dinheiro com a mão esquerda e contou. Total, trinta e cinco reais. O ladrão olhou bem para o Miro que permanecia imóvel. Num gesto inesperado e já com a arma abaixada, o ladrão estendeu a mão e devolveu o dinheiro, pedindo apenas dez reais. Imediatamente Miro deu os dez reais ao bandido, que assim como aparecera, sumiu rapidamente. Mais tranqüilo Miro fechou o portão e foi dormir o sono dos justos. Afinal a vida continua e ele tem que batalhar pelo leite das crianças.

TEATRO, ARTE MILENAR




Na foto a Tânia e o Beto em " MACHADINHO", no Teatro Municipal de Araraquara. Peça didática/pedagógica sobre a infância de Machado de Assis, escrita pelo Tárcio, que, aliás, é aquele cidadão aí da primeira foto, com o seu inseparável violão.