20 fevereiro 2007

TIO SANTO


Não sei porque a maioria das crianças acaba elegendo um parente para se apegar mais. Eu, por exemplo, adorava meu tio SANTO. Era esse o nome dele. SANTO CONQUISTA. Aliás fiquei a manhã toda de ontem tentando saber o motivo a que me levou a pensar no tio SANTO. Hoje descobri finalmente o porque. Estou fazendo uma cortina na garagem de bambu gigante. Lixei-os e agora estou pintando de várias cores fortes. Alguns bambus estão sendo atacados por uns bichinhos que parecem cupins, só que bem menores. Eles furam o bambu destruindo-o. Fui até uma loja especializada e me venderam um veneno para matar os bichinhos. Cinco ml para cinco litros de água, tamanha a potência inseticida do veneno. O cheiro é insuportável. Está lá no rótulo "venda apenas para empresas especializadas". O vendedor nem me perguntou se tenho empresa especializada. Após aplicar o veneno, tive que sair do cômodo onde estão os bambús. Lavei-me e o cheiro ficou impregnado nas mãos e roupa. Foi aí que lembrei-me do tio SANTO. Ele devia ter em torno de vinte e cinco anos e eu 6 ou 7 anos. Quando ele vinha nos visitar eu ia na Estação da Estrada de Ferro aguardá-lo. Dava a mão para ele e subíamos a ladeira da rua principal. Ele tinha que parar a cada cinquenta metros pois tinha os dois pulmões comprometidos pelo inseticida que pulverizava na lavoura sem nenhuma proteção. Ele transpirava às bicas. Morreu antes de completar trinta anos. Minha mãe quando recebeu a notícia foi chorar no fundo do quintal para que eu não a visse. Ela escondeu de mim essa notícia triste até quanto pode. Incrível até hoje vejo o tio SANTO sorrindo e me abraçando e se esforçando para falar comigo em tom de voz normal. A rosa aí é para ele. Homenagem póstuma em tempos de internet, mas com a mesma emoção de antes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não me lembro de ter me apegado a um parente em especial. Lendo seu texto, vejo que isso faz uma falta aqui, de alguma forma.

Abraços.