12 março 2011

RODEI PARA TRÁS O RELÓGIO DO TEMPO

Voltar no tempo. A cabeça gira, dá tonturas. Foi assim a viagem a Uchoa, cidade da infância agitada, cheia de lembranças boas e más. Tudo ali parece ter parado no tempo. Ainda não se usa colocar cadeados nos portões. As portas continuam abertas. As pessoas, embora mais velhas, continuam as mesmas, os mesmos sorrisos, as mesmas bondades. Tom Zé fala em uma de suas músicas que tudo que ele aprendeu foi durante seus primeiros anos de vida, quando sua mãe cantava canções antigas ao lado do seu berço. Ele diz também ter aprendido com os amigos do pai que vinha visitá-lo e ele no berço registrava tudo. Os pediatras dizem que formação do caráter do ser humano se dá nos primeiros anos de vida. Talvez seja da infância passada com essa gente simples de Uchoa que eu sou o que sou. Ali foi minha escola. Na rua, em casa e no grupo escolar, que, aliás, continua do mesmo jeito, até a mesma janela e o mesmo vitrô. Veja do que estou falando:
O Hotel continua o mesmo, no mesmo lugar, do mesmo jeito
A pequena Estação Ferroviária, tal como a deixei. Era a grande atração dos habitantes irem até a Estação para verem o trem. Poucas pessoas desciam e poucas subiam no trem, mas a Estação ficava cheia de gente. Quando eu ia viajar de trem invariavelmente meu coração disparava quando a máquina vermelha e possante apontava na curva apitando.
A Igreja principal da cidade. Em Uchoa a população tinha duas formas de saber o horário sem ter relógio em casa. Os três trens de passageiros que passavam pela cidade sempre no mesmo horário e o relógio dessa igreja que batia de meia em meia hora. Um dia, meu irmão mais velho, o Osvaldo, junto com outros colegas, passaram na casa do padre e avisaram que iam dar corda no relógio. Depois de girarem até não poderem mais a manivela que enchia o relógio de corda, eles amarraram um saco de estopa no martelo que batia no sino. Era quase onze horas. O martelo bateu produzindo um som abafado e praticamente inaudível para quem estava no chão. Resultado, as crianças perderam a hora da escola e muitos outros transtornos. O padre, um italiano bravo, foi até a igreja com um porrete na mão e fez correrem os peraltas.
Esta é a casa onde morei dos 2 aos 11 anos, está do mesmo jeito, até as telhas ainda são as mesmas!! A única alteração foi o muro, porque no meu tempo era cerca de bambu. Notem a porta da sala aberta.

4 comentários:

leci disse...

A cidade em que o tempo parou...
Um bom título para uma crônica.
Fotos Lindas como sempre.

Desculpe o sumiço, estou sem net em casa, estou usando a da faculdade.

Abraço

Tania Capel disse...

O hotel da minha tia Preta!!! uhuuu! quanto tempo... a rua ao lado, que quase aparece tem o nome do meu bisô: Abel Castanheira!
nossa, há muito tempo não vou lá... preciso combinar dias desses com a família e fazer uma visita a cidade!
beijo, Rubão...

p.s. vou mostrar o post pra minha mãe, ela vai adorar!

Tania Capel disse...

Agora estou mostrando o post pra minha mãe... vamos lá: a dona do Hotel Uchoa é a Therezinha Castanheira, herdou o hotel do meu bisô Abel Castanheira, que o comprou quando vendeu seu sítio de café. Minha mãe era filha do Ismael Castanheira.
Esse bar do lado era do meu avô, agora é do meu primo (na verdade, primo da minha mãe!). Essa casa do lado da estação era da Tia Conceição e do marido Margarido Lemos, ele era telegrafista da estação. Minha mãe falou que a distração era ficar na janela do hotel vendo o trem chegar ou então subir e descer as escadarias para ver o trem na estação.
Meu avô paterno morava ao lado da Igreja, ele era marceneiro e se chamava José Aguilera. Minha vó paterna era a mais famosa costureira da cidade, D. Belmira.
Ela adorou as fotos, ficou lembrando de tudo, hehehehehehe!
Beijo, Rubão!

Rivaldo disse...

Cidade Bonita hem! Por acaso Boa Tarde? Gostaria de saber se você tem as sementes de Araponga por aí. É faácil encontrar no mercado? Como faço.

Rivaldo
razevedo@gmail.com