O pai chegou mais cedo do trabalho naquele dia. Normalmente ficava no bar após o expediente de trabalho. Duas filhas e um filho estavam no portão quando ele virou a esquina, trazendo com esforço aquele corpanzil de 120 quilos. As meninas assustadas foram para dentro da casa, saindo do caminho. O menino apenas saiu da frente do portão. Ficou ali do lado imaginando o que poderia acontecer. O pai aproximou, estava todo molhado de suor. Olhou para o filho e não disse nada, apenas levantou a mão esquerda e acariciou a cabeça do menino. Desceu o braço gordo na direção do ombro do filho e entraram na casa, abraçados. Depositou a mochila com a marmita vazia sobre o velho sofá da sala. Olhou as meninas sentadas na cama e apenas sorriu timidamente para elas. Foi até a cozinha, destampou as panelas sentindo o cheiro da comida recém preparada. Pegou uma toalha de banho e uma troca de roupa e foi para o banheiro, onde tomou um banho demorado. Passou pelo filho exalando cheiro de sabonete barato. Enquanto estendia a toalha de banho molhada, determinou que todos sentassem à mesa para o jantar. Talvez tenha sido a primeira e única vez que sentaram-se todos num mesmo horário para a refeição. O filho teve a clara impressão de que o pai chorava em silêncio enquanto comia aquela comida simples de um operário. Não há na memória do menino a lembrança de um outro dia de paz naquela casa.
12 janeiro 2010
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Um comentário:
Parece realismo...
Você também deveria escrever sempre...
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