28 junho 2009

ANTES QUE AS FLORES MURCHEM


Levantou-se cedo, como fazem todos os velhos. Estava impaciente, afinal já se passaram vários dias que não via a filha e os netos. O convite para o almoço veio em ótima hora, pensou. A filha, como sempre, foi muito clara: Não chegue cedo que não quero acordar as crianças e eu também gosto de acordar tarde aos domingos. Para passar o tempo, limpou a casa depois sentou-se pesadamente na poltrona e pintou as unhas. Vaidosa, foi até a frente do espelho e caprichou na maquiagem. Não esqueceu de ajeitar os cabelos e prendê-los com uma tiara. Abriu o guarda-roupas e escolheu o conjunto que mais gostava, cor cáqui, alegre. Olhou para o relógio. Suspirou. As horas não passam. Arrumou mais uma atividade para ganhar tempo. Lembrou que a filha gostava de flores, principalmente rosas. Pegou a bolsa, trancou a casa e ganhou a rua rumo a floricultura que ficava no caminho do ponto de ônibus. Comprou rosas e ganhou de brinde outras flores. No ponto de ônibus o seu relógio já marcava 11hs50 minutos. Sentou-se num banco e ficou olhando na direção de onde viria o ônibus. Aumentou a impaciência e a pressa. O ônibus não vinha. Acendeu um cigarro. A 100 metros da vaidosa mulher, um curioso que acabara de adquirir uma máquina fotográfica, fez o registro da angústia.

Um comentário:

leci disse...

Gostei, sabe que as fezes eu ando por aí e vejo cenas dignas de fotos, pena que eu não ando por aí com a minha máquina...
Abração