02 novembro 2007

DIA DE FINADOS


Araraquara tem uma história muito interessante acontecida na passagem do séc XIX para o XX. Um rapaz chamado Rosendo Brito matou um fazendeiro de uma família tradicional da cidade (um pesquisador diz que foi legítima defesa). Esse rapaz foi preso junto com o tio que estava no local do crime. Poucos dias depois os capangas do fazendeiro invadiram a cadeia, retiraram os dois de lá e os lincharam. Como na época estava havendo um surto de febre amarela, os três foram enterrados provisóriamente fora da cidade. Anos depois os restos mortais do fazendeiro foram trazidos para o cemitério central, já os dois Britos permaneceram no mesmo local. Hoje o cemitério leva o nome deles "Britos". Onde eles foram enterrados construíram uma igreja (essa da foto). Muitos acreditam que eles são milagreiros, até tem uma sala de agradecimentos pelas graças recebidas.

Nunca pesquisei sobre o ato de queimar velas em cemitérios, igrejas, cultos, etc. O fato é que não gosto, o cheiro dessas velas comuns é horrível. Entretanto, as pessoas obedecem essa tradição antiga, sabe lá porque. Neste local onde aparecem essas pessoas da foto, o calor e o cheiro estavam insuportáveis, mas a cada minuto chegavam mais gente. Outra coisa que notei é que esse ano a concorrência religiosa estava no auge. No portão do cemitério havia gente de todos os credos, cada um com um Deus melhor que o outro empurrando panfleto com a sua propaganda, o que me fez lembrar a boca de urna nas eleições, aí me veio à mente uma música antiga cantada pelo Carlos José cuja estrofe diz: Porém, há um caso diferente/cada qual com sua gente/cada homem com seu Deus.

A velhinha veio andando lentamente amparada pelo rapaz de mais ou menos 40 anos que deduzo ser seu filho. Eles param atrás de um túmulo onde só tem uma cruz pintada com cal. Ela acende uma vela e a coloca ao lado da cruz junto com um vasinho de flores vermelhas artificiais. Num gesto inusitado ela acende um cigarro e também o coloca junto da vela e do vaso. Viram-se e vão embora. Concluo que o falecido morreu de enfisema pulmonar.

2 comentários:

Menina Enciclopédia disse...

é, essa história dos britos eu tb conheço e parece q já é uma lenda da cidade... até onde sei... uma prima pesquisadora de outra área disse q participou de um congresso onde essa história tb foi contada
beijo

Dossiê Araraquara disse...

Caro Rubens,

Estamos produzindo um documentário, que se chama Dossiê Araraquara e abordqaremos muito esse tema dos Brito. Queremos saber se, além das 3 fotos publicadas no blog, você tem ou sabe quem possa ter mais fotos do dia dos finados no cemitério dos Brito. Meus contatos são: dossieararaquara@gmail.com e (16) 8239-5074. Grato! André Leão - diretor de produção