22 outubro 2007

ENSAIO (parte II) A SAGA CONTINUA

Aqui vai a segunda parte do ensaio. Lembre-se, serão 4 partes, continuo não sabendo o que se passará na terceira parte nem como acabará essa aventura.

ENSAIO (parte II)
Lino foi até o quarto. Puxou um pano que estava preso à parede do quarto que serve como cortina. O pano quase opaco fechou a visão escancarada do quarto. Lino foi até a cabeceira da sua cama, enfiou o braço direito por debaixo dela e apanhou a espingarda de dois canos que guardava ali ao alcance da mão. Dobrou o cano e certificou-se de que estava carregada com dois cartuchos. Levou-a até a porta do quarto e a encostou ao lado de uma caixa numa posição de fácil manuseio, caso fosse necessário. Lino voltou-se para a sala. Ao passar diante da porta, viu um dos rapazes trazendo preso às costas o veado catingueiro. Ele entrou na casa sorrindo. Posso usar sua forquilha para tirar o couro do bicho e salgar a carne ?, perguntou ao Lino. Antes mesmo que Lino respondesse o rapaz passou por ele encaminhando-se até o quintal onde estava a forquilha que Lino usava para preparar os cabritos que matava para comer. Pode, respondeu Lino, e se precisar de uma faca boa de corte tenho aí uma guardada, emendou. Carece não disse o mais velho, levantando-se do banco de madeira e seguindo o jovem com o animal morto. Vou ensinar esse cabra lidar com bicho morto, é o primeiro que caça na vida, completou. Ouvindo essas palavras Lino lembrou-se do seu pai. Quando completara 13 anos, seu pai o levou para caçar. Primeiro tomou o cuidado em ensinar-lhe como usar a espingarda. Parecia que ainda doía seu ombro direito onde apoiava a arma. O coice que ela dava ao disparar era muito forte para uma criança de 13 anos, mas Lino se fazia de durão e continuava atirando. Foi treino de uma semana na caatinga. No outro dia sairiam para a primeira caçada. Lino lembrava que aquela noite nem dormira direito, sem saber até hoje se pela emoção da primeira caçada ou do medo de atirar e ver o animal morto e ensanguentado, embora acostumado a assistir o pai sacrificar cabras e porcos no quintal. Mas desta vez seria diferente, era ele o executor da façanha. O dia ainda não tinha amanhecido quando o pai do Lino o acordou. Em minutos ganhavam o estradão de terra batida. O pai do Lino montado no seu cavalo preferido, todo preto com pêlos brilhantes. Lino montava um potro branco com pintas pretas e pequenas por todo o corpo, um animal fogoso devido sua juventude. Naquele dia tudo foi muito estranho, Lino e seu pai não encontraram nenhum animal de bom porte que valesse a pena matar. Retornaram ainda com o sol alto. No meio do caminho de volta o pai do Lino teve uma idéia. Chegando em casa pediu a ele que não descesse do cavalo. Foi até o cercado apanhou um cabrito no colo e trouxe próximo do Lino. Você vai caçar esse bicho, disse o pai encarando-o. Fique ali perto daquele tronco, disse o velho apontando o lugar, que devia estar a uns 20 ou 25 metros do local. Quando eu der o sinal vou soltar esse cabrito e você vai atrás dele e mate com um tiro, completou. Lino tremeu, nervoso. E não atire na posição de traseira da caça, senão pode acertar a cabeça do cavalo, ensinou seu velho. Fique parelho, exigiu. Lino ainda nervoso tomou posição, segurando a espingarda com as duas mãoes e com um dedo da mão direita prendia a rédea. Engatilhou a arma e ficou atento ao sinal do pai. Já !, gritou o velho soltando o animal. Lino esporou o cavalo que saiu correndo atrás do cabrito. Lino puxou a rédea levemente para a direita para se posicionar melhor. Alcançou o bicho, apontou a arma sentindo o coração bater forte. Tocou delicadamente no gatilho para não disparar antecipadamente. Ficou paralelo ao cabrito. Apertou forte no gatilho ouvindo um enorme estalo. O cabrito virou uma pirueta caindo de costas levantando poeira. O pai do Lino veio correndo. Lino parou o cavalo e voltou sem pressa. Ele tremia dos pés à cabeça. Ao aproximar do animal, Lino não desceu do cavalo, aguardou seu pai chegar. O velho chegou ofegante, ajoelhou ao lado do cabrito, examinou o ferimento, depois olhou para o filho com os olhos contraídos para evitar o excesso de luminosidade. Sorriu mostrando seus dentes pretos e orgulhosamente disse: Você atira bem rapaz!, vamos lá no quintal prender o bichinho na forquilha que vou te ensinar como se tira um couro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai, que dó do cabrito. :/
Abraço, Rubens.

RUBENS disse...

É de mentirinha rsrsrs