ENSAIO (parte I)
O calor estava insuportável. Os primeiros raios de sol penetravam pela fresta da janela de tábuas rústicas do quarto humilde. Lino virou-se na cama fazendo ranger as tábuas que sustentavam o colchão de espuma. Sentia o corpo pesado, preguiçoso. Achou por bem levantar-se. Enxugou o suor que descia pela testa e pescoço com o dorso da mão direita. Abriu a janela deixando a claridade do sol entrar. Contraiu os olhos até se acostumar com a luz do dia que estava iniciando. Seria com certeza mais um dia quente e sem chuva, que, aliás, não era novidade, afinal já se passaram dois meses sem que houve sequer um chuvisqueiro. Alguns cavaleiros passavam no estradão de terra poeirenta, acompanhados de alguns cães, que, despreocupados, brincavam entre si. Lino foi para a cozinha preparar o café. Lembrou-se com saudades dos filhos e da mulher, que foram morar com o seu sogro até que voltasse a chover. A água do açude precisava ser economizada e servia exclusivamente para cuidar dos animais que criavam e que, em contrapartida, forneciam leite e carne. Enquanto Lino preparava o café, alguém gritou no portão:
Ô de casa !!
Lino caminhou até a porta, abrindo-a com esforço porque ela raspava no chão duro de terra batida. Com a porta aberta avistou três cavaleiros com roupas típicas daquela região. Dois deles traziam espingardas presas nas costas com tiras de couro. Todos tinham na cintura uma peixeira longa.
Bom dia, disse o mais velho deles. Aparentava ter uns 50 anos. Pele morena queimada do sol forte da região. Sentimos cheiro bom de café fresco, resolvemos pedir pro moço se não pode arrumar uma canequinha pra nós; passamos a noite aí pelo mato caçando e estamos cansados; bem que um cafezinho vai ajudar um bocado, continuou o mais velho.
Lino, sem saber o que fazer com aquela situação inesperada, afinal coisa igual nunca tinha acontecido, ainda mais naquela hora da manhã. Eram pessoas desconhecidas e sequer aparentavam ser gente de paz.
Bom dia, respondeu Lino, titubeante. Coloque os cavalos ali na sombra da árvore que o café tá pronto, emendou.
Só quando os cavaleiros desmontaram dos cavalos é que Lino percebeu que na garupa do homem que estava no meio, tinha um veado catingueiro morto. Lino fingiu que não havia notado. Assim que os homens entraram na casa de Lino o ar ficou impregnado do cheiro de suor e couro. Os dois homens que portavam as espingardas, vieram com elas para dentro da casa, o que deixava Lino pouco a vontade.
Acomode e não repare o barraco, disse Lino apontando os bancos de madeira que ficavam encostados na parede.
O moço mora sozinho ?, indagou um dos cavaleiros, esticando o pescoço em direção do quarto que não tinha porta.
Mandei a mulher com os filhos para a casa do pai dela, até a chuva chegar, respondeu Lino num tom baixo e desinteressado. (continua)
02 outubro 2007
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Um comentário:
sabe q isso tá me lembrando guimarães rosa? rss bem, se eu tiver alguma idéia boa, ajudo a continuar, mas ando bem deprê pra isso
beijo!
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