05 agosto 2007

O VELHO E A ESPERANÇA

O velho de cabelos grisalhos e mal cuidados entrou na casa lotéria. Suas mãos estavam trêmulas, as unhas estavam sujas de terra. Vestia uma camisa toda listrada em branco e azul, bem surrada, com pequenos rasgos sob os braços. A calça marrom também demonstrava muito tempo de uso. Seus sapatos que um dia foram pretos, estavam com o couro ressecado e sem o cadarço, embora aquele modelo exigia esse apetrecho. Tirou do bolso da camisa uma tira de papel onde constava alguns números e passou a conferí-los com dificuldade numa grande folha pendurada na parede. Precisava encostar seu rosto o mais próximo possível da folha de resultado, tamanha a dificuldade de enxergar. Lentamente ele olhava para sua tirinha de papel e para a lista da parede. Número por número, impacientando os mais jovens da fila que aguardavam sua vez. Terminada a conferência, abaixou a tira de papel, ficou cabixbaixo, falou alguma coisa inaudível, caminhou lentamente para a porta. Desceu os dois degraus, jogou na sarjeta a rara esperança de um dia se alimentar melhor.

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