23 agosto 2006

É ASSIM QUE SERÁ

O barraco da periferia está protegido com uma cerca rústica de arame farpado. No quintal descansa uma corrocinha de mão onde ele coloca o lixo reciclável. Ele acorda incomodado com os raios de sol que penetra pela fresta da janela do seu quarto. Senta-se na cama, vestindo camiseta com o nome de um político e uma calça velha e rasgada em alguns pontos. Levanta-se calmamente, vai até um tanque de cimento que está ao lado da casa. Abre a torneira ali existente e lava o rosto. Espalha espuma de sabonete pela barba de semana fazendo espuma. Apanha o aparelho de barbear descartável que estava numa fresta da parede e começa barbear-se. Passa água no rosto já barbeado. No fogão esquenta uma marmita de comida amanhecida. Depois de preparada a comida, coloca-a numa bolsa. Vai até ao lado da casa e apanha algumas flores que cultiva com cuidado. Faz um pequeno buquê amarrando-o com fita de pano. Guarda na bolsa com a marmita uma bíblia velha. Vai até o quarto e troca de roupa. Veste um terno cinza, coloca gravata escura, sapatos pretos limpos. Apanha a bolsa com a comida e a bíblia na mão esquerda e na mão direita o buquê de flores. Caminha até o ponto de ônibus. Desce ao lado de um cemitério. Pára diante de um túmulo. Recolhe algumas flores murchas e as substitui pelas novas. Abre a bolsa e apanha a bíblia e, em pé, faz suas orações. Fecha a bíblia e senta-se ao lado do túmulo. Ao meio-dia, almoça ali sentado. Já tardezinha fica de pé em frente ao túmulo e despede-se. Chega em casa ao cair da tarde, quase noite. Vai até a carrocinha, apanha uma corda e entra em casa. No quarto, pega uma cadeira e amarra a corda num caibro do telhado. Faz cuidadosamente um laço de forca. Com as mãos estica a corda para certificar-se de que está firme. Sobe na cadeira. Quando está pondo o laço no pescoço houve alguém batendo palmas no portão. A sequência desta história estará no meu próximo curta-metragem que será filmado agora no início de setembro.

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